Limeira, 27 de agosto de 2010
Eu acordei várias vezes nesta noite. Orei muito, pois além de eu não estar pronta pra morrer, eu espero não ter de fazer transfusão, pois desejo continuar a cumprir com os meus deveres de cidadã e doar sangue. Hoje, 8 pacientes do CECOI = enfermaria da ortopedia = serão operados e cada vez que a maca chega pra buscar um, dá um gelo da barriga. Tem um cara aqui, o primeiro que foi pra sala de cirurgia, que quebrou a tíbia. Ele estava contando para os outros que ele estava 'noiado" quando caiu. Segundo uma enfermeira que o conhece desde pequeno, ele era perfeito, mas agora é notório que ele tá meio "escapa a quarta". A criatura fala alto pra caramba e dorme num pulo. Aí são os roncos... a bitoneira.
Voltando a mim, bem, cada vez que ouço o som de rodinhas, dá um calafrio, pois penso que é o maqueiro do centro cirúrgico.
4h, 5h, 8h, 11h, 14h, 17h esperando ser levada ao centro cirúrgico e nada. Dezessete horas sem comida, nem água e com dor nos calcanhares, em função do gesso pegando neles. Muda os pés de posição, melhora por alguns minutos e logo depois, eles doem de novo.
Vendo minha dor, minha mãe foi se cansando, cansando, ao ponto de ir ao centro cirúrgico perguntar se não iriam me operar. O enfermeiro-chefe do setor mostrou à minha mãe a lista de pacientes e disse que não havia mais reservas de cirurgia para a Ortopedia. Vendo o desespero da minha mãe, o enfermeiro ligou para a Administração e a assistente social "repreendey" o residente, Rodrigo Rossi, que subiu aqui no CECOI feito um dragão. Aí discutiu com a minha mãe, dizendo que a ortopedia não ficava no centro cirúrgico. Minha mãe replicou, dizendo que eu e o outro rapaz, que estávamos sendo tratados como animais... bem, eu não falei uma palavra, pois eu estava bem, mas estava sensível à situação e o que eu sabia fazer, assistindo à cena, era chorar.
O jejum dos dois foi suspendido...