Bem, a Tita chegou por volta das 9h no hospital para ficar comigo e então o Jairo foi pra casa, pois precisava trabalhar. Fiquei com pena dela e do Earle, pois têm uma firma de contabilidade há pouco aberta e apenas os dois trabalham ali. O Earle faz muitas visitas aos clientes, enquanto a Tita cuida dos assuntos do escritório, telefone e com ela ali comigo, o Earle se viu doido, pois não podia sair para as suas visitas. Por mais que eu quisesse que ela fosse e seguisse com os seus compromissos, eu precisava de sua ajuda, além de que eu estava carente, por estar longe de casa... e eu queria a mamãe =D
Pedi ao Jairo que ligasse pra minha mãe, pois neste dia, eu estaria mais calma, imobilizada e talvez a reação dela fosse melhor. Mamãe ficou desesperada e procurou ajuda de um monte de gente, a fim de dar um jeito para me trazer pra São Paulo. Ela chegou ao vereador “Marião Telão”, o qual foi muito gentil e acho que foi a melhor pessoa com quem minha mãe conversou, pois este tinha amizade com a deputada Célia Leão, uma cadeirante, ninguém melhor para compreender minha situação e saber como me ajudar. Sua acessora, Vera, moveu mundos e fundos, entrando em contato com o Governo, é até Exército, a fim de solicitar o jato para me buscar ali.
O doutor Custódio foi até o meu quarto e disse que meu caso era cirúrgico. Eu disse a ele do meu medo, pois com AME (Atrofia Muscular Espinhal), eu não sabia se poderia tomar anestesia geral e qual delas seria a mais indicada. Com isso, ele pensou na melhor solução e sugeriu uma tala móvel, pois esta é mais leve e eu poderia tirar pra tomar banho (eu ao sei como isso poderia ocorrer, já que a dor era imensa). Só que cada tala custa R$70 e o SUS(to) não as cobre. Pensei, pensei, até que optei por elas, mesmo que praticamente todo o meu rico dinheirinho - o dos CD's - mas pensei na ‘dificulidade’ que passei com as outras 8 fraturas que sofri e o peso dos gessos e/ou talas que usei, a coceiras... e assim decidi pelas talas móveis.
Ele me disse que eu iria para o Centro Cirúrgico colocar as talas e que pra isso eu seria sedada. Acho que falaram pra ele que era escandalosa :P. Logo, o anestesista já foi aplicando um sedativo e os olhos ficando pesados e comecei a viajar literalmente na maionese até apagar. Acordei depois na sala de recuperação, já com as talas colocadas. Voltei pro quarto e a história de deitar e levantar a cada 15 minutos recomeçou. Fiquei com dó da Tita, pois virou uma rotina chata e ela não tinha nada mais interessante entre os seus momentos de guincho e foi o dia inteiro. Por volta de 20h30, o Jairo chegou e ela foi embora. E esta foi mais uma noite longa de deita e levanta. Na outra noite, ele tinha se deitado na cama ao lado e pôde dormir um pouco. Entretanto, nesta noite, como a Leila chegou pra fazer uma cirurgia, ocupou a cama e o Jairinho ficou na poltrona.
A quarta-feira foi um dia bem estressante, pois quando o Dr. Custódio chegou no quarto e, ao ver o Jairo e a Tita, não falou nada e saiu bravo, dizendo às enfermeiras que elas eram um bando de incompetentes, pois era proibido acompanhante para SUS(to) e depois falou com a freira, o padre - administradores do hospital - sobre o caso. Ele expulsou os meus amigos, dizendo que não era pra eu ficar com ninguém e depois veio a enfermeira-chefe, querendo saber pra quem eu pedi autorização para ficar com acompanhante, sendo que era um homem me acompanhando à noite, e que por minha causa, elas poderiam perder o emprego. Dissemos que não sabíamos e explicamos que sou cadeirante e que não conseguia ficar na mesma posição por muito tempo e que precisava de ajuda pra me levantar e blábláblá O Jairo tentou falar com o médico, mas ele o ignorou.
Já que a Tita estava indo embora, eu lhe pedi para que fosse à Polícia e fizesse pra mim um B.O., pois precisaríamos dele depois no processo contra a Prefeitura. A secretária do Dr Custodio veio me cobrar as talas, mas como eu não estava com a minha carteira, não tive como acertar; mas prometi fazê-lo até a minha alta. Ela disse que se eu não pagasse, eles viriam e tirariam as talas e colocariam gesso. Eu fiquei sabendo só no sábado, mas um irmão foi ali e bondosamente pagou as talas pra mim e até se oferecera pra me levar pra São Paulo em um dos seus carros... funerários. Seria lindo, já pensou??? Mas o pessoal do hospital não permitiu, pois se ocorresse alguma coisa, todos teriam um problemão.
Com a expulsão dos meus amigos e agora acompanhantes, me vi sozinha e fiquei muito preocupada, pois eu precisava sentar e levantar várias vezes e eu precisaria chamar as enfermeiras, que já haviam comentado que a ala nunca esteve tão cheia e elas estavam feito loucas de um lado para o outro. A Leila, minha companheira de leito, iria operar e como a filha estava com ela, a Talita, a Leila sugeriu à enfermeira para que a Talita ficasse com ela (pois ela não o poderia) e me ajudasse no processo de sentar e levantar. Com o tempo, eu até comecei a chamá-la de “guincho”. Ela ficava brava comigo, pois não gostou do apelido que tão carinhosamente lhe coloquei. Por que será?
Nesse mesmo dia, a D. Maria foi internada no nosso quarto e as filhas dela revezavam no cuidado à mãe e por muitas vezes, a Márcia e suas irmãs Marlene, Simone (não me lembro o nome da quarta) me ajudaram muito. De quarta pra quinta, lembro-me de eu não ter deixado a Márcia dormir, pois eu não me acostumara ainda à posição que ficaria por um bom tempo. Eu comecei a revezar os “guinchos”, pois não queria sobrecarregar a coitada da Talita, que me ajudava com muitas coisas, inclusive comprar besteiras na cantina.
Recebi a visita da assistente social do hospital, Rúbia. Que doce de pessoa! Ela tinha conversado com a minha mãe ao telefone e me trouxe o telefone pra eu conversar com ela. Eu fiquei tão feliz com aquilo e vi quão carente eu estava. A Rúbia conversou muito com os meus amigos ali, procurando a melhor forma para me trazerem pra São Paulo. A Deputada Célia Leão se dispôs a pagar a despesa da viagem, mas não conseguiram a ambulância de Brusque. A Vera, sua assessora, passou mais de uma hora conversando com o pessoal da Gol, a fim de providenciar o meu transporte de avião. Foi comprada para o sábado, às 17h30, no aeroporto de Navegantes.
Eu pude falar a elas sobre Jesus, sobre o que Ele fez na minha vida. Discuti, com muita classe com o marido da Márcia, que estava criticando os católicos. Ao lado do hospital, tem a igreja de Azambuja, uma santa da região. Neste fim-de-semana, começara a festa em homenagem à santa e ali vai muita gente. Ela queria dar umas voltas pela festa com a Talita e então ele começou a falar mal dos católicos, inventou uma história da Bíblia, de que eu nunca ouvi falar. Aí eu intervim na conversa, dizendo que eu não era católica, mas que eu não tinha o direito de criticar ninguém por sua crença, uma vez que havia muitos sinceros ali, assim como o há em todas as religiões e que Deus um dia reuniria todos esses sinceros em um só povo e os levaria para o céu, pois Ele não vem buscar placa de igreja e sim um povo que O aceitou como Senhor e Salvador da sua vida. Ele não teve resposta pra isso.
Um detalhe não muito agradável, porém muito importante que gostaria de citar. Pensa na criança aqui, de domingo até o sábado, comendo 3 vezes ao dia e não eliminando as impurezas. Por dois dias eu tentei, sem sucesso. Eu estava muito preocupada, pois a minha barriga estava grande e dura, doendo de uma forma estranha. Eu sentia meu estômago sendo esmagado, eu não conseguia inspirar profundamente, que doía. Como eu orei a Papai do céu pra me ajudar neste detalhe que muitas vezes nem valorizamos. Enquanto eu me arrumava para partir, deu aquela vontade e pedi a ajuda da Talita para colocar a comadre embaixo de mim. Após algumas caretas de força, consegui! Eu cheguei até chorar de emoção e gratidão a Deus.
Este foi um dia muito especial, que inclusive tiramos fotos, a fim de guardarmos uma recordação especial. Olha as fotos abaixo:
Sente o naipe da criança - a cara de doente
Este é o Jairinho
A Leila, colega de leito
A Talita, filha da Leila e adorável "guincho"
Esta é a Marcia - outro adorável "guincho"
Pude partilhar com elas meu momento atual, os problemas que eu estava enfrentando, minha decisão ao lado de Deus, bem como as peripécias, sem me esquecer da queda das quedas. Mencionei que quando Deus permite que algumas desgraças ocorram em nossa vida, é porque Ele deseja manifestar a Sua graça e glória em nossa vida. Sabe, conhecer essas mulheres no hospital foi muito especial. Deus cuidou de detalhes tão pequenos, que pude ver que tudo o que Ele estava permitindo que me ocorresse era porque Ele me ama muito e estava, ou melhor, está querendo me ensinar algo com isso.
A continuação da história da pobre que vai até o aeroporto de Navegantes eu conto no próximo capitulo =P